Luiz de Mattos em sua época foi um espírito incansável, foi um bravo e duplamente abolicionista. Lutou pela liberdade do homem escravo do próprio homem. Mas também lutou pela liberdade do homem escravo dos dogmas escravagistas e grosseiros, liberando o pensamento do homem travado nas amarras do misticismo religioso, levando-o ao auto conhecimento de si próprio como Força e Matéria.

Centenário do nascimento de Luiz José de Mattos, comemorado em 03/01/60

É difícil, depois do que ouvimos dizer algo sobre Luiz de Mattos, tal a emoção que essas evocações nos trouxeram a nós, suas filhas, que sempre tivemos por ele grande admiração, pois, para nós, ele foi o melhor dos pais.

Assim, evocamo-lo, agora, como nos tempos idos de menina-moça vendo a sua figura fidalga, de porte austero, na sua sobrecasaca preta, como era moda nos fins do século passado, fisionomia severa, contrastando com as suas atitudes e gestos que, para nós, eram um misto de bondade, carinho e compreensão.

Porque, era singular: ele nos compreendia, parecendo que adivinhava as nossas preocupações, as nossas mágoas, como se fosse da nossa idade!
E, então, nos ajudava sempre, com a sua palavra amiga e experiente!

Decorridos tantos anos, parece-nos agora que era o seu porte altivo, o seu modo de trajar, o feitio cavalheiresco que tinha no trato, quer com a família, quer fora de casa, com os estranhos, que tanto nos encantava.

Cuidou de nossa cultura, dando-nos professores de tudo, inclusive de pintura e música, das artes, talvez as que mais apreciava.

Não admitia falta de linha, mesmo na intimidade, e detestava o emprego de gíria, que “manchava os lábios de uma menina de família”, dizia, repreendendo-nos.

Era tão exigente com o emprego da língua portuguesa, que corrigia nossa correspondência quando internadas no Colégio, e no-la devolvia, para que anotássemos suas corrigendas.

Ao sair do Colégio, sendo a filha mais moça e solteira, tornei-me sua secretária. Meu pai estava no auge de sua luta de jornalista e doutrinador. Nas reuniões públicas, no Centro, doutrinava de improviso, mas suas conferências e artigos de jornal eram escritos em papel sem pauta, numa letra nervosa e impaciente de quem muito tinha de expressar no tumulto das ideias.

Gostava de escrever só, trancado em seu gabinete, com o silêncio interior envolvido pelo silêncio cá de fora.

E passava-me as laudas, por baixo da porta, sem abri-la.

Iniciava, então, minha tarefa: adivinhar o que esta escrito, e datilografar o artigo.

As palavras ininteligíveis ficavam em branco e, no princípio, não eram poucos os claros que deveriam ser preenchidos, mais tarde, mediante consulta.

E assim, foram escritos e datilografados livros, conferências, artigos, inclusive a Nota, que aprecia, diariamente, em a A RAZÃO, agora encadernada em 37 volumes.